H@ VIDA DEPOIS DOS 40

...com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas...

terça-feira, 28 de março de 2006

Jarbas Ribeiro de Araújo

De manhanzinha, a barba ainda por fazer e a escova em veloz passeio deslizante sobre os dentes. Vejo no espelho alguém que poucos vêem. Surgem-me então à lembrança os sonhos da noite recente e as fisionomias queridas de toda uma família constituída de pessoas agora ausentes do meu quotidiano mas que ocupam um lugar privilegiado na minha memória e trajetória de vida. Só soube recentemente de sua partida e por algum motivo que não consigo atinar, vividamente me recordo do seu Jarbas - alguém que ocupa um particular destaque em minha história. Quando eu ainda era um desconhecido para mim mesmo e tinha um grau rasante de autoestima, aquele homem, ser especial, um adulto, pai de uma família numerosamente encantadora e administrador da filial de uma importante multinacional na minha cidade de origem, me acolheu, me ouviu, valorizou e respeitou meus sentimentos, opiniões e ideais juvenis - e quando esse contato se iniciou eu não tinha mais que 15 anos. E por ser a pessoa que era e por ter constituído a família que constituiu, sua casa era um ninho acolhedor e lá eu me sentia sempre ternamente acolhido por todos. Até então nunca me havia sentido tão gente na vida! Ninguém jamais conseguirá avaliar o sabor e a importância daquele relacionamento de amizade, cujas lembranças ainda trago no recôndito da alma. Até hoje ele é para mim uma valorosa referência e é pela força daquele seu exemplo que nutro grande empatia pela juventude - especialmente em relação aos mais carentes, - e cultivo fecundas amizades que se originaram com pessoas naquela faixa etária. Com seu jeito paternal, despojado e sereno - conselheiro sempre disposto a ouvir e incentivar - seu Jarbas me ensinou muito sobre a beleza das coisas simples e a riqueza das inúmeras maravilhas que Deus gratuitamente dispôs na natureza: o canto dos pássaros, as borboletas coloridas, as pedras preciosas, os montes invernados e as águas cristalinas... e observando-o pude descobrir que também cá entre os humanos, incrustradas em meio aos familiares, amigos, conhecidos e até pessoas mais distantes se encontram outro tipo de jóias ainda mais especiais.
O seu Jarbas foi para mim uma dessas jóias raras, artisticamente trabalhada e lapidada pelo ágape da fraternidade!
Com um misto difuso de saudade e sentimento de perda, resta o consolo da esperança cristã de poder reencontrá-lo na grande festa daquele dia ensolarado de intensos raios multicores que jamais termina!

quarta-feira, 22 de março de 2006

sempervivum

sou constante movimento
e evoluo devagar
para onde vou quero ir
mas sem pressa de chegar
muito breve o momento
nessa eterna nave ao mar
navegando até a vidraça
que se transpõe sem quebrar
fica o corpo em carcaça
e a alma livre sem par
desposando o infinito
sem fim seu novo habitat
à morte rompe a fronteira
e ganha o lado de lá
deixando lastro e saudades
...sonhos de reencontrar

quinta-feira, 16 de março de 2006

(in)finitude

há que cuidar
do que é tenro
apreciando as gemas
gente brilhante
jóia humana
vão-se os anéis
ficando a essência
ainda que dissipem
a pele e a carne
à morte que magoa
a vida é bela
a do presente
quando tudo ri à toa
e a permanente
que transcende
à sepultura da pessoa

terça-feira, 7 de março de 2006

acontecimentos

Os acontecimentos se sucedem. Alguns são previsíveis como o nascer e o por-do-sol. Mas cada acontecimento é sempre inédito, mesmo os que acontecem muitas vezes. Outros se advinham e ainda há os totalmente imprevisíveis e imprevistos. A vida segue o seu rumo. Me questiono sempre sobre o rumo da vida. Algumas coisas decido, outras são decididas por mim. Na existência pontilham os bons momentos e ocasionais infortúnios. Apesar da maioria dos detalhes surgirem de improviso, eles quase sempre acontecem no bojo de uma decisão maior. Um programa de vida. O sucesso do existir quase sempre depende do cumprimento de metas pré-estabelecidas. Mas não se negue a possibilidade das surpresas e as grandes guinadas na vida. Talvez resida aí a graça do existir. Essa possibilidade, essas surpresas. Tenho me deparado com boas surpresas na maioria dos meus dias embora também tenha sentido faltar o chão sob os meus pés em algumas ocasiões. Experimentei derrotas e frustrações mas, graças a Deus, a todas sobrevivi. Ultrapassei os cinquenta e ainda tenho muitas esperanças. Creio. Já estou traçando novos desafios. Confio. O meu desejo é prosseguir!...

quarta-feira, 1 de março de 2006

riscos

viver
risco incalculável
morrer
risco inevitável
riscam os céus
os coriscos sagrados
em raios que dividem o azul celeste
e o meu coração agreste
entre embevecido e assustado
nunca se ressente
nunca se completa
a não ser quando transbordam
os afetos reservados
feito magma de um vulcão
só que no lugar do enxofre
o teu perfume
no lugar das lavas
este meu ciúme
e o desejo de fusão em vida
malgrado o risco
incalculável
inevitável
...