H@ VIDA DEPOIS DOS 40

...com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

30 ANOS


           Me preparando pra esse dia ensolarado eu, de repente, olhei no espelho e vi uma criança já crescida. E li por trás do seu sorriso o risco iminente de cair um turbilhão de lágrimas contidas. Imagens se sucederam freneticamente nas lembranças desse tempo já vivido, e um balanço foi se desenhando com os números pulsantes de uma vida. Vislumbrei o rosto jovem dos meus pais de quando eu ainda engatinhava e recordei a pura alegria dos meus irmãos da infância feliz que eu ainda não sabia. Revi o encanto das brincadeiras da minha meninice e as monumentais algazarras entre os amigos da rua e dos tempos de escola. Recordei depois o meu olhar furtivo em busca das primeiras aventuras, os olhares trocados, os toques de mão, o primeiro beijo escondido e roubado e os arroubos daquelas sensações desconhecidas – quase um meu nirvana juvenil. Tanta efervescência, muitas lembranças e tantos grilos povoando a adolescência. Alguns e algumas trago camufladas até aqui... Mas o que seria da vida sem os encontros – sem os desencontros?! Confesso que cresci. E fiz os pactos dos amores que foram infinitos pelo tempo que duraram. Vi que era bonito amar assim e elaborei milhões de planos. E fiz mil coisas nestes dias de ventura. Eu quase me perdi. A vida foi abrindo as suas caixinhas de surpresas – boas, más, – algumas foram de extasiar e outras quase me mataram. Ganhei, perdi. Fui sorteado com uma fonte de sorrisos e acho que por isso não aprendi chorar. E distribuo risos com fartura fazendo o que é possível pra não ter choro à minha volta. Algumas vezes fracassei nessa empreitada e não consegui deter as lágrimas – eu mesmo fui varrido por elas, especialmente quando uma noite traiçoeira açoitou minha família e nos roubou o que havia de maior brilho. Uma jóia rara: irmão, amigo, filho... Mas fiquei sabendo por intermédio das estrelas que entre elas ele foi se instalar – Deus viu que para uma gema tão preciosa – estar ao lado Seu, no céu - era o melhor lugar. Agora é um anjo protetor – com nome de irmão – e ilumina a nossa casa com o seu olhar, o seu cuidado e o seu jeito amoroso de nos acompanhar. E ele nos diz que a vida deve continuar, que o tempo não para e nem pode parar...
           No lugar dos amores transitórios da juventude a vida me presenteou com o amor que veio pra ficar. E foi tanta doçura no saciar a fome dos meus beijos e abraços... Fincado em terra firme enfrentei e enfrentamos as ventanias, as chuvas torrenciais da vida, os medos, as tristezas, os conflitos naturais. Os que não venci sozinho, vencemos juntos – os que perdi, juntos não perdemos. E o amor não demora, no tempo certo traz os frutos da espera. E uma barriga se enfeitou de vida para embalar o fruto desse nosso amor. Quando me dei conta da paternidade que assumia – ah nesse dia eu chorei – chorei de alegria, chorei de espanto, chorei de encanto, chorei de amor... E tudo isso no meio do meu maior sorriso e se daqui pra frente em algum momento eu não sorrir, não é preciso – pois trago no meu ninho, nos meus braços de pai – um sorriso que veio do céu para inundar de alegria a nossa vida, um presente de Deus que nos faz a vida celebrar.
           E agora, o que será do amanhã?! Não sei... Mas sei que Deus está comigo e tem me carregado nos momentos de agonia e dor. E o sorriso da proteção divina jamais deixará de nos acompanhar - por isso quero celebrar com meus amigos, minha família, minha mulher - metade preciosa de mim, e a minha filha. Quero sorrir com todos e, se eu chorar, que seja de alegria, que seja de amor que tanto eu tenho recebido e tanto eu tenho para dar.

(Ps.: homenagem ao primo Adriano no seu 30º aniversário.)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

garoa

chove com insistência
num derrame de gotas modorrentas
e as folhas molhadas
espargem brilhos ao redor
todos os sentidos preguiçosos
trabalham à meia luz
cheiros, sons e paladares
brotam da terra em cio
fazendo um torpor vazio
aquietar meus sinais...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

parada

quem dera parasse o tempo
ao menos uma era inteira
e a gente então parisse
as correções das besteiras
e depois tudo prosseguisse
como se nada havido...