H@ VIDA DEPOIS DOS 40

...com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

gratitude

a gratidão flui sem qualquer controle
porque de certo há tanto por agradecer
desde um sorriso juvenil descomplicado
até o sonho mais dourado e difícil de dizer
passando por venturas e avenidas
que levam a destinos inusitados
a mares nunca antes explorados
e no concreto de cada dia
em suores produtivos
que afastam pensamentos destrutivos
do não ser
do não fazer
da ausência de sentido
eu quero ouvir os risos nas esquinas
e o folguedo dos meninos
e quero ser grato
por mais esse instante
por todos os instantes
pela vida...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

removedor afetivo

tenho um tipo de olhar
reservado para os dias densos
e uma expressão de esgar
para ouvir lamentos
choros convulsivos
e falsos lampejos
em suaves beijos
pura traição
então só me abraço
pra apagar os traços
da desilusão

terça-feira, 14 de agosto de 2007

vácuo mental

Vamos combinar uma coisa: daqui pra frente tudo vai ser diferente e você vai aprender a ser gente... mas isto me parece plágio de música antiga! Então vamos recomeçar o raciocínio: você percebe a rede que o enleia? Não se sente refém de um universo ao qual você não pertence?! O ser humano é um bicho complexo mas a vida é extremamente simples e depende basicamente de carbono. Mas não, queimamos neurônios e pestanas na tentativa inútil de repensar-nos desde o princípio. E, como no gênesis, descobrimos que no princípio era o caos e para além do gênesis e antes do apocalipse compreendemos que o caos ainda vigora no interior de cada um de nós. O pensamento é um bicho nervoso que nos toma as rédeas e faz o seu próprio curso, e pensar que estou aqui agora comodamente sentado com um fervilhar de idéias desencontradas querendo cada uma se impor simultaneamente. Não dá! A vida é curta e o espaço é amplo, o tempo só é infinito fora do tempo. Aliás, não há tempo na eternidade e talvez todo o tempo que temos ou tenhamos esteja incluído no eterno que virá - se é que já não chegou e estejamos iludidos com a pretensão de estarmos vivos.
Sei lá, quem viver verá...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

serelepe na mente

Quando o experiente senhor trajando um colete cinza se aproximou o serelepe fugiu. Na casa do serelepe todo mundo era muito displicente, o pai serelepe, a mãe serelepe e a serelepada toda... Como pode alguém assim se aproximar de um serelepe como eu, o serelepe pensou. Aí tem coisa! É melhor fugir... Enquanto assim pensava e dava passinhos apressados em sua fuga repentina o serelepe percebeu a imensa sombra móvel que o cobria... o senhor elegante também corria e já prestes a alcançá-lo jogou uma toalha sobre o bichinho apressado, prendendo-o no interior daquele pano. Desesperado debateu-se procurando uma saída, mas percebeu que a mão do senhor de certa idade o havia envolvido por sobre a toalha felpuda. Nisso uma algazarra de crianças que corriam se aproximaram gritando em voz alta: pegou vovô? pegou o bichinho para nós? Calma meninos. Calma... Vamos deixar o bichinho se acalmar e depois a gente conversa um pouquinho com ele. A criançada ria e ria das tolices do vovô. Como poderia um serelepe falar?! Só em desenho animado, não na vida real. Mas para espanto da garotada o serelepe falou: a vida é mesmo uma loucura e na falta de inspiração ninguém sabe do que são capazes certos escritores... Acontece que os personagens das histórias vão ganhando autonomia e deixam louco o louco que as cria. E para corrigir essa espécie de efeito borboleta o escritor escreve... escreve... escreve... A garotada se cansou daquela história - crianças são mesmo impacientes - e os pirralhos foram brincar de bola no quintal vizinho. Só ficaram ali os dois, igualmente pensativos, o vô que escrevia e o serelepe aprisionado nas toalhas de sua fantasia...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

formigamentos


Também hoje quero divagar, pois que divago todo dia. A cordinha do pensamento se rompeu e aonde vou parar nem sei. Eu penso no turbilhão dos séculos e das galáxias enquanto miro pequenas formigas passeando sobre o vidro translúcido da minha janela ornada exteriormente por pequenas gotas brilhantes e orvalhadas. Cada formiga é um universo inteiro, nem que seja um universo de formiga. Estranho como elas tem tantas patas e como não se consegue definir sua fisionomia para uma identificação individual. Como é seu nome dona formiguinha?!. O universo me parece tão grande que tende ao absurdo. E eu, e quanto a mim?! Quem sou; de onde vim; pra onde vou?! Será que tudo se transformará numa grande nebulosa?! Há pequenos prazeres, pequenas dores. Há grandes prazeres e grandes dores. Há deleites extremos e tragédias. Aviões também caem e matam gente. Raramente – mas caem! Então uma dor repentina choca uma nação. Notícias, manchetes, teorias e explicações em tantas páginas de jornal. Enquanto isso se sucedem mortes no varejo dos motoqueiros nas ruas das metrópoles, dos motoristas e passageiros nas rodovias descuidadas, dos trabalhadores ribeirinhos em barcaças naufragadas, das vítimas das balas perdidas nas vielas, dos pacientes nos corredores dos grandes hospitais abandonados - mortes que povoam as estatísticas sem causar essa comoção generalizada.... Já quanto aos trágicos eventos aéreos, todos - invariavelmente, desde o presidente ao grande latifundiário, do miserável ao grande otário, o vereador, o senador e o deputado e até mesmo o seu vigário e o alcaide encabulado expressam com frases calculadas sua mesmice ou seu pesar. Só as formigas não parecem se preocupar e passeiam nas fuselagens acidentadas como se fossem suas casas, como se fossem sua pátria, como se nada tivesse acontecido... Acabei de comer um pudim cremoso e ainda trago seu sabor em minha mente, e na embalagem lambuzada que o continha eu vislumbro – pasmem – formigas da fuselagem carbonizada... Essa visão turva até me faz parecer que tudo não passa de formigueiros e formigas!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

da força dos acontecimentos

A escrita anda em fase de hibernação, preguiçosamente acomodada nos desvãos da mente e com pouquíssima disposição para romper a inércia. Os acontecimentos tem sido fortes no meu entorno existencial, - especialmente o grave acidente aéreo com duas centenas de mortos no meio de uma crise da aviação como nunca se tinha visto antes neste país. Caso dramático, lamentável e profundamente triste para toda uma nação e, em especial, para os familiares das vítimas que tiveram tragicamente ceifadas as suas vidas. Além disso - a vida segue - aconteceu o Pan no Rio de Janeiro que apresentou um Brasil esportivo em ascensão em diversas modalidades, algumas tradicionais como o futebol feminino, o voleibol masculino, a garotada das ginásticas artísticas e rítmicas, o atletismo e outras modalidades de menor evidência como o taekwondo, o remo e a esgrima, entre outros. Provavelmente o Brasil conseguirá superar Cuba na próxima edição dos jogos Pan-Americanos de Guadalajara no México, em 2011.
No plano pessoal também passei por momentos marcantes pois eu e minha mulher celebramos bodas de prata no último dia 31. Pena que a viagem que fizemos antecipadamente tenha sido num período de muitas chuvas e praticamente interrompida pela consternação que nos causou o acidente do avião da Tam. Mas, como eu já disse, é preciso continuar a vida e esperamos que todas as pessoas envolvidas superem a dor e o trauma tão cedo quanto possível na circunstância...